23 outubro 2006

1 ano




ADSUM fez 1 ano no passado sábado. Já passou um ano...
Um ano de imagens pessoais e de intensas palavras. Obrigada a todos pelas visitas e pelo carinho...


As palavras

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Eugénio de Andrade

20 outubro 2006

Domus


Costa Nova






Vamos os dois ao longo dos dias felizes

conversando e ouço o que dizes

como se quem falasse fosse eu;

(adeus palavras, sonhos de beleza,

montanhas desoladas da infância

donde tudo se via: a alegria

e a cegueira do que não se via;)

vês agora o que eu vejo, a minha sombra

caminhando a teu lado num tempo perdido

quando eu ainda não tinha morrido?



(Adeus perfeição, adeus imperfeição.)

Às vezes pergunto-me se valeu a pena,

se não haveria outra solução,

se não poderia, por exemplo, ter embarcado

num desses barcos que aparecem sempre

milagrosamente na última estrofe,

e se tu não poderias ter ficado

no cais, ou em alguma metáfora mais

imperiosa, partindo também donde te via,

e se assim não teria tudo sido

menos improvável e menos cansativo.



Infelizmente não havia barco onde

coubessemos eu e as minhas lembranças;

tudo o que havia, tudo o que realmente havia,

a ti o tinha dado e

dando-to tinha-to roubado,

e a minha própria morte pairava

entre ti e mim indecisamente,

como uma ideia, não como algo evidente.



Agora volto a sítios vastos

uma última vez, com hesitantes passos

subo as escadas e bato à porta

e tu abres-me a porta embora estejas morta

e embora eu esteja morto, como se fôssemos

visitados pelo mesmo sonho.



de Manuel António Pina

10 outubro 2006

Libertatis


Barra-Aveiro


Voas, deslizas, és tu e não és...